EU SONHO EM TIRADENTES
Anna Karina Castanheira Bartolomeu, coordenadora do Campus Cultural UFMG em Tiradentes.
Oficina realizada em fevereiro de 2016, na cidade de Tiradentes (MG), a convite do projeto UFMG Itinerante, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
PARTICIPANTES
Açucena de Souza Romero, Alexandre de Almeida Evaristo, Amanda Ribeiro Carvalho, Ana Clara de Oliveira Souza, Ana Vitória dos Santos, Beatriz da Silva Castro, Cássio Campos Evaristo, Diulianna Zanola Santos da Silva, Erick Santana de Assis Vieira Pinheiro, Felipe Washington Rodrigues da Silva, Gabrielly de Almeida Evaristo, Isabelly Gomes da Silva Rosa, Julia Dias, Lainara Campos Margotti, Layane Aparecida Alves Pereira, Luiz Ottavio Rosário de Lima, Maria Eduarda Raimunda da Silva, Mirian Esther de Jesus, Patrick Augusto Silva Silva Júnior, Pedro Henrique Silva Nascimento, Rayssa Ellen Ribeiro Alves, Talita Machaeli de Jesus, Vitor Gustavo Lombelo, Vitória de Paiva Oliveira, Yasmin Gabrielle de Assis Matias e Yuri Henrique Assis Matias.
A cidade de Tiradentes, com seu casario colonial encantador, aos pés da belíssima Serra de São José, passou por um processo clássico de gentrificação, comum ás localidade que são descobertas pelo turismo. Aos poucos, o centro histórico foi se esvaziando de seus moradores mais antigos e suas casas foram sendo ocupadas por lojas, restaurantes e pousadas para receber visitantes de várias partes do Brasil e do mundo, além dos frequentadores dos muitos eventos que ali acontecem anualmente. Enquanto isso, a população se deslocava em direção à periferia e novos bairros surgiam. Todo esse processo produziu profundas alterações nas dinâmicas sociais e culturais da cidade.
Uma das diretrizes do Campus Cultural UFMG em Tiradentes, vinculado à Diretoria de Ação Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais, tem sido, justamente, a de alcançar a comunidade tiradentina, em especial aqueles residentes dos bairros de ocupação mais recente que, em sua maior parte, pouco usufruem das atividades culturais e dos grandes eventos que têm o centro histórico como cenário. O projeto UFMG Itinerante, realizado em escolas públicas e associações de bairro, é uma dessas ações. Para inaugurar o projeto, com a preciosa parceria do Festival de Fotografia de Tiradentes, tivemos o privilégio de contar com Alexandre Sequeira e sua rara delicadeza ao tomar a fotografia como um lugar de encontro e de acolhimento do outro.
Assim, 25 crianças da Escola Municipal Alice de Lima Barbosa, situada nos limites dos bairros da Santíssima e da Mococa, foram convidadas pelo artista a partilhar seus sonhos, brincadeiras, fantasias, percepções sobre o espaço em que vivem. Ao longo da oficina, descobriram que, assim como a figura histórica que dá nome à cidade, elas também poderiam ser heróis e heroínas em suas vidas cotidianas. Eu sonho em Tiradentes permite-nos vislumbrar um pouco do mundo imaginado e experimentado por essas crianças. As lajes e telhados da Mococa, longe da cidade turística, são os lugares onde os pequenos heróis repousam, altivos. E, na noite escura, brilham estrelas, sereias, dragões, fadas e os meninos e meninas de Tiradentes.
Eu sonho em Tiradentes
No primeiro encontro com os alunos do 3º e 4ºanos da Escola Municipal Professora Alice Lima Barbosa, perguntei a eles qual seria o motivo do nome da cidade em que moravam, quem havia sido Tiradentes e o porquê de sua fama e importância. A resposta veio como um flash: um herói! Mas, logo em seguida, um aluno disse que também se considerava um herói, pois cuidava com afeto e atenção da mãe e dos irmãos. Vários outros também reivindicaram seu papel de heróis – anônimos, mas heróis! Esse foi o mote para a condução da oficina Eu sonho em Tiradentes. Durante cinco dias, fizemos fotos uns dos outros em um estúdio improvisado, desenhamos e descobrimos juntos que, na verdade, fotografamos e desenhamos para dizer o que queremos e o que pensamos sobre o mundo e sobre a vida. Então, com a ajuda de computadores, meus amiguinhos incorporaram sua condição de heróis e, com a ajuda de seus superpoderes e o apoio de tantas outras figuras míticas que povoavam seu universo infantil, combateram monstros que ameaçavam seu sonho de uma vida melhor. E, por mérito de suas ações, eles se transformaram em figuras dignas de monumento, alocado segundo sugestão de cada um, na área periférica em que moram. Foi um encontro mágico em que me permiti ser levado junto com meus heróis mirins em uma jornada rumo à coragem da autorresponsabilidade, num percurso que revisita a fonte primária do mundo imagético infantil, e depois retornar trazendo a essência da vida para doá-la à humanidade.