Trabalho de natureza colaborativa realizado com os alunos do 2º ano Fundamental menor da Escola Municipal de Ensino Fundamental Princesa Isabel. A ação foi realizada a partir de Residência artística promovida pelo Coletivo Suspended Spaces em parceria com a Associação Fotoativa.
SEMENTES PARA FORDLÂNDIA
Alexandre Sequeira
Desde nossa partida de Santarém uma questão me despertou grande interesse: a incrível variedade e beleza de sementes de árvores nativas da região que apareciam boiando nas águas claras do Tapajós ou depositadas nas faixas de areia em suas margens. Além do encantamento por suas formas e cores, pensava na importância que tiveram em todo processo de colonização e ocupação humana na região e na cobiça que ainda hoje despertam no cenário econômico nacional e internacional.
Fundada em 1928 por Henry Ford às margens do rio Tapajós (sudoeste do Pará), Fordlândia foi pensada como base para o cultivo de forma intensiva da Seringueira para, como o derivado de sua seiva – o Látex – suprir a produção de pneus automotivos da indústria Ford situada na cidade de Detroit nos Estados Unidos. A vila figurava igualmente enquanto um projeto civilizatório, reunindo usinas, moradias, hospital e escolas a partir de um modelo americano. Mas o sonho empreendedor foi marcado por uma sucessão de falhas e equívocos que acabariam por suplantar a fantasia fordista. Hoje, Fordlândia é um lugar que onde se comunga o passado e o presente em narrativas que mesclam histórias de fracassos com expectativas de futuro. Um lugar de múltiplas temporalidades já que a vila convive ainda hoje com edificações (algumas em ruínas) que dizem respeito a esse sonho interrompido de Henry Ford. Se por um lado essas marcas questionam o modelo de uma ocupação essencialmente extrativista e predatória ocidental, por outro enfatizam o quanto, tanto ontem quanto hoje, o território amazônico ainda desperta grande cobiça.
Decidi revisitar o delicado capítulo da fundação da cidade tendo como parceiras(os) alunas(os) do segundo ano do ensino fundamental menor da Escola Municipal de Ensino Fundamental Princesa Isabel. Interessava-me discutir o quanto um projeto pensado para beneficiar alguns poucos, sem a escuta e a partilha dos benefícios com o coletivo, quase sempre está fadado ao fracasso. A ideia era conceber uma proposição de natureza artística que pudesse se converter em material didático para a discussão do passado e futuro da vila a partir de valores coletivos, bem como de um exercício sobre a capacidade da vila reescrever essa história. Passados mais de 90 anos desde a fundação da cidade, minhas parceiras e meus parceiros de projeto foram provocados a criar a semente de uma espécie vegetal que tivesse como fruto algo que consideravam necessário nos dias de hoje em Fordlândia. O resultado se revelou numa surpreendente lição de ética e cidadania por parte do grupo. Todas e todos conceberam um conjunto de vinte lindas sementes, que traziam em si o desejo por uma série de valores tão necessários não apenas à Fordlândia, mas também a tantas outras pequenas cidades de um país tão plural e, ao mesmo tempo, tão desigual.
As imagens foram transformadas em um conjunto de 20 postais, cada um com a assinatura da/do criadora/criador da semente e de seu registro em desenho. A tiragem limitada dos postais foi entregue à Escola de Fordlândia para que fossem usadas como material didático ou para venda, podendo assim o valor arrecadado ser usado em ações que beneficiassem a escola.
PARTICIPANTES
Alex Leite Pereira, Ellen Vitória Dias Pereira, Ester Aguiar da Silva, Fabrício Bonifácio dos Santos, Gabriel Frederico da Cruz Nascimento, Iana Maria Silva Sena, Iara de Oliveira Costa, Ilson Gabriel de Lima Colares, Jacob Rilan dos Santos, Luana Tarcila Lima Sussuarana, Marciel Frederico Santos de Brito, Marcley de Araújo Ribeiro, Maykelly da Rocha Sousa, Maykele Aparecida Silva da Silva, Micaela Sousa Queiroz, Nicoly Suellen Nogueira dos Santos, Richardy da Silva Nascimento, Robson Rainan Viana Bechara, Vitor Gabriel Carvalho Nazaré e Wesley Renan dos Santos Paes.