SOMOS TODOS UM
Oficina realizada em julho de 2015 na cidade de Londrina (PR) a convite do projeto Aretê: de Norte a Sul.
PARTICIPANTES
Matheus, Wilians, Nathália, Cassandra, Giovana, Thiago, Carlos, Gustavo, Guilherme, David, José, Natália, Júlia, Ana Júlia, Karolyne, Beatriz e Ana.
ARETÉ: DE NORTE A SUL
O projeto Areté: de Norte a Sul realizou, no ano de 2015, 32 oficinas artísticas para crianças e adolescentes. Ofertando atividades em desenho, pintura mural, lambe-lambe e fotografia, bem como três vivências com artistas convidados de âmbito nacional. As atividades aconteceram no Centro de Comunicação e Cultura da Região Sul/Adecom e no Centro Cultural da Região Norte (Biblioteca Lupércio Luppi) de Londrina (PR).
Areté, em Tupi-guarani, é um dia festivo. A mesma palavra na Grécia Antiga era sinônimo de coragem e força para enfrentar as adversidades. Na Paideia (sistema de educação e formação educacional das culturas gregas e greco-romanas), areté também surgiu como conceito de educação integral para a formação de indivíduos capazes de desempenhar qualquer função na sociedade.
Em virtude disso, nomeamos o projeto com o intuito de resgatar a essência dessa palavra, que, por estar munida de diversos significados, permitiu que todas as ações fossem moldadas à medida que as convivências entre as comunidades e os participantes se estreitavam.
As oficinas – entre elas, a de fotografia, conduzida pelo artista visual Alexandre Sequeira – resultaram em intervenções artísticas coletivas nos arredores desses centros culturais e pelos muros da cidade. Foram realizadas também duas mostras expositivas dos trabalhos resultantes, criando um sistema de troca que descolou os participantes para a região oposta à de onde viviam.
Além de inserir as áreas periféricas no contexto artístico e cultural da cidade, contribuímos para que os participantes acessassem e adentrassem o universo criativo que foi construído simultaneamente ao seu. A estratégia do projeto era a promover, a partir dessas ações, a descentralização da arte na cidade de Londrina, estimulando a relação entre as duas comunidades e todos os artistas envolvidos.
Artistas convidados: Alexandre Sequeira (Belém do Pará), Zéh Palito (São Paulo) e Rimon Guimarães (Curitiba).
SOMOS TODOS UM Vinte adolescentes das periferias do norte e do sul da cidade de Londrina (PR) participaram da oficina fotográfica. As diferenças entre os dois grupos eram evidentes: os adolescentes da periferia norte da cidade, acostumados a uma vida mais urbanizada, com todos os problemas estruturais e sociais que dela resultam, eram obrigados a amadurecer com mais rapidez. Já o outro grupo, oriundo da periferia sul, com características rurais, tinha um comportamento mais inocente e condizente com sua idade, podendo usufruir dos espaços públicos em atividades de convívio e lazer, como soltar pipas no ar ou passear de bicicleta. Tais características tão distintas traduziam-se numa natural dificuldade de interação entre os dois grupos.
Ao perguntar sobre sua relação com a fotografia, recebi a mesma resposta de quase todos: “O que mais gosto é de fazer selfie” – o tão popular autorretrato entre adolescentes nos dias de hoje. Diante da constatação do interesse de todos, dirigi as atenções do workshop à produção de retratos, mas com uma condição: cada participante deveria obrigatoriamente escolher, como modelo para sua fotografia alguém do sul e vice-versa. As imagens reveladas foram cortadas em diversos pedaços, que serviriam para recompor novos retratos híbridos – com fragmentos da imagem dos participantes. A formação da nova imagem passava a ser forjada mediante uma articulação de signos modificáveis e combináveis entre si, como uma colagem de decisões. Nesse sentido, os retratos resultantes não diziam mais respeito a um sujeito específico, mas sim à relação entre muitos.
Entre surpresas e gargalhadas, pudemos discutir questões relacionadas à alteridade, na medida em que alcançávamos a noção de um sistema de representação pelo qual os signos e seus significados surgem de uma operação dialógica. Um movimento em que eles criavam a si mesmos, reconhecendo-se plenamente como resultado de sua própria realização coletiva. Na livre dinâmica do jogo criativo, meus companheiros de projeto se davam conta agora de que não podiam ser etiquetados, classificados e rubricados e que, ao não se submeterem a uma condição de acomodação, poderiam experimentar a si mesmos como enredados por uma relação concreta como o outro e com o outro.
